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Quem nunca clicou em uma notícia, imagem ou vídeo em alguma rede social e logo compartilhou, mesmo sem ler até o fim?
Esse impulso que toma conta da maioria dos usuários da internet é o motor que movimenta as fake news (notícias falsas, em inglês). O meio político é um prato cheio para a difusão de conteúdos distorcidos com a finalidade de prejudicar governantes, lideranças, partidos e candidatos. Com a proximidade das eleições, cresce o número de notícias falsas e a preocupação com elas pela Justiça Eleitoral.
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A revelação de que as fake news influenciaram na eleição de Donald Trump nos Estados Unidos serve de alerta. Boatos e fofocas não são coisa nova em campanhas eleitorais, no entanto a rapidez com que chegam às pessoas em qualquer parte do mundo é o que potencializa o conteúdo.
- Estamos vivendo um momento muito tênue entre o que é verdade e o que é falso. A primeira coisa é curtir e compartilhar sem ler. Antes, o boato era de boca em boca, hoje ganha formato de notícia nas redes - diz Viviane Borelli, professora de Jornalismo da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM).
O professor de Mídias Digitais do curso de Jornalismo da Universidade Franciscana (UFN) Maurício Dias explica que as fake news contêm títulos e chamadas apelativas para fisgar o público.
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As produzidas por profissionais, utilizam técnica jornalística, o que ajudaria a enganar. E há quem ganhe com isso.
- São conteúdos com chamadas apelativas, sensacionalistas, que usam coisas do senso comum. Alguém cria um site e acaba recebendo um pagamento por clique - comenta o professor.
Há riscos de as fake news induzirem o eleitor nas eleições de outubro. Para o professor de Teoria Social da Universidade Federal do Pampa (Unipampa) Guilherme Howes, não há dúvidas quanto a essa possibilidade.
-Vai ser uma guerra na eleição deste ano. Cada pessoa também é uma mídia, cada arroba é um produtor de conteúdo. E as fake news também são um grande negócio e podem mudar o rumo de uma eleição - avalia.
SEM LEGISLAÇÃO
O Brasil não tem legislação específica para punir quem produz fake news. Somente na Câmara, há mais de 10 projetos de lei, entre eles um que prevê multa de R$ 50 milhões para provedores de conteúdo que não excluírem, em 24 horas, informações falsas, ilegais ou prejudicialmente incompletas. Empresas como Facebook, Google, YouTube, Twitter e Whatsapp anunciaram medidas para combater o problema na eleição presidencial. O Facebook, inclusive, divulgou, ainda em 2017, um manual para ajudar o internauta a se proteger.
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O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) fez acordo com 28 partidos para combater a prática. Enquanto não há legislação específica, o TSE deverá recorrer ao Código Penal.
- Uma coisa é dizer que fulano não foi bom governante, isso é opinião. Acusar de roubo já é calúnia. Nesses casos, pode determinar responsabilidade civil - diz o promotor de Justiça aposentado e advogado João Marcos Adede y Castro, ressaltando que não se pode confundir liberdade de expressão com divulgar mentira.
Confira as dicas de acordo com o manual divulgado pelo Facebook e de especialistas ouvidos pela reportagem sobre como identificar fake news:
Desconfie das manchetes - Notícias falsas frequentemente têm títulos apelativos, em letras maiúsculas e com pontos de exclamação. É bom desconfiar
- Conferir a URL - Muitos sites de notícias falsas imitam veículos de imprensa autênticos, com mudanças na URL (endereço). Uma forma de checar a autenticidade é comparar a URL de veículos estabelecidos
- Investigar a fonte - É preciso checar se a fonte é idônea. Se a notícia partir de uma organização desconhecida, verifica a seção "Sobre" do site para saber mais sobre ela
- Atenção aos erros - Muitas notícias falsas contêm erros de ortografia ou apresentam layouts estranhos
- De olho nas fotos - Com frequência, notícias falsas contêm imagens ou vídeos manipulados. Muitas vezes, a foto pode ser autêntica, mas ter sido retirada do contexto
- De olho nas datas - Notícias falsas podem conter datas que não fazem sentido ou que tenham sido alteradas
- De olho nas evidências - Verifique as fontes do autor da notícia para confirmar se são confiáveis.
- Confira outras reportagens - Se nenhum outro veículo tiver publicado reportagem sobre o mesmo assunto, pode ser um indicativo de fake news. Se for publicada por vários veículos confiáveis, é mais provável que seja verdadeira
- Farsa ou brincadeira? - Há sites que divulgam informações em forma de sátira, muitas vezes confundindo as pessoas. Verifique se o site é conhecido por paródias e se os detalhes e o tom do que é contado sugerem que pode ser apenas uma brincadeira
- Seja crítico - Pense de forma crítica sobre o que lê e vê e compartilhe apenas os conteúdos que você comprovar que são verdadeiros
Onde checar fatos
Três agências de fact-checking (checagem de notícias) atuam no Brasil esclarecendo vídeos, fotos e notícias que circulam nas redes sociais
Exemplos de fake news que circularam nas redes sociais
Caso Marielle
- Diferentemente do que circulou no Facebook e no Whatsapp, a vereadora, assassinada em março, nunca teve qualquer tipo de relacionamento com Marcinho VP (foram checados dois traficantes identificados com esse apelido)
Voto eletrônico
- Montagem divulgada no mês passado induzindo que só Brasil, Cuba e Venezuela têm votação eletrônica é falsa. Segundo o Truco, projeto de checagem da Pública, o sistema é usado no Canadá, na Índia, no Butão e em alguns estados americanos, além de outros 18 países que adotam a urna eletrônica em eleições regionais. Em Cuba, o voto é no papel. A Venezuela usa o sistema eletrônico, que imprime recibo de confirmação do voto, que é depositado na urna pelo eleitor
Voto nulo anula eleição
- Circula desde o ano passado a falsa informação de que, se a metade da população apta votar nulo, a eleição será cancelada e todos os candidatos participantes ficarão impedidos de concorrer. Segundo o TSE, os votos nulos (quando é digitado número errado) e em branco (quando é digitada a opção branco) não são computados como válidos